sábado, dezembro 26, 2009

Na terra de Cristo, quem não acredita nele é...

Nesses dias de festividades, que por essas bandas, traduzem-se em muita comida, vinho, conversa fiada, piadas, doces e filmizinho de natal; ainda há os que tem tempo para o menino jesus. São os votos da fé; aliviando o acúmulo de pecados e coisas feias que produzimos durante o ano todo. E por falar em fé, a missa do galo já não é o que era. Mas se for ainda mais sincero, os cultos modernos causam-me assombro. Quanto a queda do Papa, isso sim foi assustador. A notícia da tv que mostrava alguém na tentativa sôfrega de atropelar o velhinho causou-me confusão, e como andava eu a "giboiar", senti que talvez naquele momento pudesse comer mais, ou beber mais. Até pensei: que diabos, pra um homem de deus até que a sua santidade está bem protegida?! Em questão de segundos os "homens de preto" surgiram do nada. Pareciam enfileirar-se por debaixo das batinas sacrosantas. Um aparato de seguranças digno de um presidente americano. Posso imaginar o perdão concedido à agressora, e se assim reza o papel de um Papa excêntrico mas benevolente, é perdão garantido. E olha que essa não terá sido a primeira vez! Mas enquanto digerimos, as notícias continuam: um acidente ali; outra pessoa que morreu acolá; um terremoto de escala 6,7 na indonésia; mais um golpe; mais um dado estatístico; mais uma vez o primeiro-ministro fala ao povo. São os votos da esperança; a esperança que alivia a dor. Ter medo do futuro faz parte desse emaranhado problemático que essa sociedade capitalista nos enterrou. Todos os governos trabalharam como nunca neste ano, pra nos salvarem da destruição absoluta, emprestaram mais dinheiro a esse modelo falido. Na lista de falhados, faz necessário incluir o premier italiano, que termina o ano num saldo negativo: menos dois dentes e mais um osso quebrado! Não nos esqueçamos, mesmo em épocas festiva, dos que desaparecem sem deixar rastros. Daqueles que se foram sem avisar, sem deixar vestígios, e agora tem um lugar vazio à mesa! Quantas famílias se encontram nessa situação, com o fantasma daqueles que não sabem se foram ou se ainda estão entre os vivos. O giboiar dessa gente deve ser indigesto, pesado. São os vultos da sociedade. A sombra da dúvida. São os votos ao milagre; promessas que fazem à espera de um milagre. Isso fazemos todos nós! Resolvemos que nesse momento festivo, e no delírio alucinante do vinho à 12%, fazemos votos e promessas para o próximo que se calhar tornar-se-á o mesmo. Isso faz-nos lembrar dos que não tem teto e que ao relento acompanham os que não tem pão, e no conjunto dessas duas situações periclitantes, estão os que não tem nem uma coisa nem outra. São os votos ao desconjuro; que nos livre a má sorte do desemprego, do desapego, da falta de uma família, da fome, dos excessos e da loucura. Nesse fim de tudo e início de alguma coisa, quem não acredita, não existe! Porque na terra de cristo, e toda essa máquina manipulativa-social, incluindo a festa da sapatilha onde os seguranças te olham atravessados e as atendentes de bar parecem que estão com período, quem não acredita nele, no menino jesus, não entende o espírito do natal. Então não adianta ter mesa cheia, ou mesmo não ter nada pra comer. Seriam os votos da miséria e da pobreza de espírito; felizes os que tem tudo e os que não tem nada! Felizes somos nos que cá estamos, na certeza que um dia deixaremos de existir. Pois na terra de cristo, quem não acredita nele é...